A minha história

O meu nome é Margarida, nasci em Aveiro, vivi no Porto e quem diria… que mais tarde, regressaria às origens mas, através do online, chegaria, facilmente, a todo o lado!
Enquanto adolescente, pertenci a grupos como a Associação de Estudantes, grupos, esses, que me permitiram crescer, desenvolver o meu lado relacional, melhorar os meus argumentos, posicionar-me com confiança sem cair na arrogância e desenvolver a minha originalidade e criatividade.
Durante o ensino secundário procurei relacionar-me também com aqueles alunos que eram considerados os mais “rebeldes” pelos professores, que se desviavam das regras, acreditando sempre que “cada um de nós é melhor do que a pior coisa que já fizemos”.
Cedo descobri o mercado de trabalho como trabalhadora e, mais tarde, como empreendedora. Aliás, o meu primeiro trabalho, enquanto estudava no secundário, foi num call center, a vender purificadores de ar. Foi aí que desenvolvi a minha capacidade de escuta ativa.
Aí conheci pessoas que reclamavam que o salário que recebiam não era suficiente e que se zangavam com os patrões. Pessoas que trabalhavam por um salário baixo, agarradas à ilusão da segurança no emprego, (des)esperando pelas semanas de férias anuais. Viviam infelizes: acordavam, iam para o trabalho, pagavam contas. Conheci pessoas que, hoje em dia, por medo, ainda ali trabalham, nas mesmas condições. Por medo de não pagar as contas, medo de serem mandadas embora, medo de não terem dinheiro suficiente, medo de começarem de novo. Enquanto isso, era-nos exigido, pelos chefes, que convencêssemos, mesmo as pessoas mais necessitadas, a comprar produtos caros e supérfluos. Ouvir, ao telefone, alguns relatos e duras histórias de vida fez-me desenvolver a minha capacidade de empatia com o outro e com os problemas da sociedade.
Quando terminei o ensino secundário, estava certa da cidade para onde queria ir estudar – o meu eterno Porto – mas com dúvidas sobre o curso que iria escolher. Em 2009 decidi optar pelo curso de Direito. Era o mais desafiante, que me tirava totalmente da minha zona de conforto e aquele que, de todos, não sabia se algum dia iria conseguir terminar.
Apesar disso, o meu maior medo era tornar-me apenas aquilo para o que estudei. Por isso, durante a licenciatura, para conseguir pagar todas as minhas despesas e porque queria ter a certeza de que se um dia ficasse desempregada, saberia fazer um pouco de tudo, quis aprender competências que tivessem valor noutros ramos de atividade. Continuei a trabalhar em diferentes indústrias: restauração, publicidade, vendas. Percorri as faculdades do país de lés-a-lés a vender cartões de telemóvel, atendi clientes de todas as faixas etárias e estratos sociais, fechei contas, servi pedidos de comida e bebida, limpei os espaços. Quando trabalhava nesses sítios, delegaram-me também as funções de gestão e de contabilidade e, assim, presenciei, em várias reuniões, todos os detalhes dos negócios. Aprendi mais a assistir a essas reuniões, do que em anos de escola. Foi assim que percebi que não era aquilo que queria para a minha vida. Nos meus superiores hierárquicos que sistematicamente falavam aos gritos vi falta de reconhecimento, situações humilhantes e constrangedoras, horas extra não pagas, a fixação de metas e objetivos impossíveis de atingir, críticas em público a mim e aos meus colegas de trabalho de forma a intimidar-nos e situações de stress, de modo a provocar o nosso descontrolo. Aí descobri a minha resiliência, a minha força de vontade e a minha capacidade de gestão de stress. Tudo isso me fez acreditar que o mundo precisava de mim! Uma coisa era certa: Na minha vida, quando fosse eu ao comando, eu queria fazer diferente.
Quanto ao curso de Direito, descobri que, de facto, tinha razão quanto à ideia inicial que tinha: era um curso desafiante e muito teórico. Pensei sempre que, se um dia, fosse eu a ensinar outros, tornaria tudo muito mais prático. Até porque, apesar de ter tido muitos professores, aprendi que a vida é o melhor dos mestres.
Encontrei, mais tarde, no estágio de advocacia, a componente prática que procurava: a conversar com os clientes, a defendê-los em Tribunal, a cumprir aquela que hoje considero ser a minha missão.
Enquanto estagiária percebi que, despendendo as mesmas horas de trabalho, poderia tornar-me chefe de mim própria, realizar-me profissionalmente e alcançar a liberdade financeira. Foi aí que aprimorei a capacidade de tomar decisões rápidas, de resolver problemas e de fazer planos para o futuro.
Nessa altura colaborei com uma Associação que apoiava vítimas de violência doméstica e crianças abusadas sexualmente – momento em que me apercebi do quão complexas podem ser as relações conjugais e de que cada pessoa compreende o amor e a paternidade de forma diferente. Procurar perceber os dois lados de uma mesma moeda tornou-se o meu modo de vida.
No meu estágio percebi que a inteligência emocional, a capacidade de adaptação e o fazer com que os clientes se sentissem acompanhados seriam essenciais para exercer a profissão de advogada. Afinal, como diria Maria Olívia Machado, “A advocacia é uma profissão de pessoas para pessoas com pessoas”.
Quando comecei a exercer a minha atividade por conta própria o meu maior medo era o de ficar doente e não ter o meu negócio automatizado ou que um dia os Tribunais fechassem e ficasse impedida de trabalhar (o que, aliás, anos mais tarde, se veio a constatar com a pandemia que começou em março de 2020). Sabia que precisava de um rendimento fixo que me deixasse menos ansiosa enquanto advogada e empreendedora. Foi aí que decidi investir em imobiliário e conhecer melhor o meu perfil de investidora. Assim, em vez de não arriscar, aprendi a gerir o risco. O know-how que adquiri com essas experiências permite-me acompanhar, hoje em dia, vários clientes a realizar com sucesso, as suas transações imobiliárias.
Ao longo dos anos, acompanhei de perto, e vivenciei através dos meus clientes, centenas de situações de regulação de responsabilidades parentais. Situações com origem em conflitos entre casais que não chegavam a acordo relativamente ao futuro dos filhos, desligavam o telefone na cara do outro e sistematicamente faziam das crianças verdadeiras armas de arremesso. Momento em que me apercebi do grande desafio que esses casais enfrentavam: a dificuldade em comunicar sobre o tema da Separação.
Muitos desses casais passaram a maior parte da vida em negação, a fazer o que os pais queriam, com medo do “fracasso” e da “humilhação social”. Eram “casados por fora, e separados por dentro”. Todos os dias tomavam o pequeno-almoço à pressa, saíam disparados porta fora, dormiam cada um no seu canto, mal conversavam e sentiam que, chegar a casa, ao final de um dia de trabalho e ter à sua espera um marido ou uma mulher que mais parecia um “vizinho” era um verdadeiro pesadelo. Até que ganharam coragem, chegaram até mim e perceberam que a separação não é um fracasso, mas antes uma aprendizagem.
A propósito da separação, desenvolvi técnicas de mediação que permitiram a estes casais ultrapassar as discussões e comunicar sobre o fim de mais um capítulo das suas vidas. Assim, em setembro de 2020, enquanto formadora, criei o Programa “Uma separação com filhos e sem dramas” e ajudei várias pessoas a ultrapassar a sua separação. Fi-lo na convicção de fazerem da separação uma oportunidade para serem felizes.
Por outro lado, comecei a dar formação na área laboral a enfermeiros, e aí, conheci profissionais completamente exaustos. Seres humanos como nós que, em plena pandemia, diariamente saíam de casa para fazer de tudo para salvar os seus doentes. E que, ainda assim, eram forçados a ultrapassar os limites máximos de tempo de trabalho diário e semanal e os limites do trabalho suplementar, sem terem direito ao descanso e remuneração legalmente previstos.
Enquanto advogada e empreendedora senti necessidade de desenvolver a minha capacidade de autoliderança. Contudo, sempre que pensava no meu negócio sentia-me sozinha (sim, é verdade, a vida de empreendedor pode ser muito solitária). Por isso, juntei-me a comunidades de outros empreendedores que começaram do zero e foi aí que percebi que, tal como eu, todos sonhavam em impactar a vida dos outros e ter liberdade de tempo e dinheiro. No entanto, deparavam-se com vários desafios: o registo da marca, a imitação do domínio, a concorrência desleal e os contratos com os clientes e funcionários. Foi assim que me propus a ajudá-los a enfrentar essas adversidades.
Durante o confinamento da pandemia provocada pela COVID-19, percebi, de facto, o que é o isolamento social. À semelhança dos restantes portugueses, fui obrigada a deixar a minha rotina e a afastar-me de amigos e familiares. Perdi muitos abraços e apertos de mão.
Tudo isso me fez querer estar mais presente na vida dos meus. Esta situação de isolamento forçado trouxe-me alguma nostalgia e relembrou-me a minha missão: ajudar todos aqueles que perderam a liberdade por crimes que não cometeram.
Todo este caminho moldou-me enquanto advogada, mas sobretudo, enquanto pessoa. A verdade é que, ao longo deste percurso, umas vezes ganhei, outras vezes aprendi. Por isso, só tenho a agradecer por cada “pedra” que encontrei. Na verdade, hoje em dia, tenho muita paixão pelas pessoas e pelo que faço (não sei fazer de outra maneira).
Conto esta história porque acredito convictamente que “Um advogado que só sabe de direito, nem de direito sabe”. Nunca seria o ser humano, a mulher, a advogada, que sou hoje, se não tivesse vivido o que descrevi e desenvolvido todas estas habilidades não jurídicas, que hoje me motivam diariamente a humanizar o Direito.
Foi este caminho que me fez perceber o que os meus clientes sentem e que me faz lutar diariamente pelas vossas causas, como se fossem as minhas.
Afinal, os nossos clientes, quando nos contratam, alugam um bocadinho do nosso cérebro. É por eles, aliás, por vocês, que me dedico diariamente a transformar vidas através do Direito.
“Não levante a sua voz. Melhore os seus argumentos.”
– Desmond Tutu –